Há pouco mais de 10 anos quando o marketing digital ganhava espaço e força no país, se falava no fim dos eventos presenciais. O mercado de feiras de negócios e eventos corporativos estaria com os dias contados e tudo – absolutamente tudo – aconteceria no mundo virtual.
Sim, não há duvida que o digital transformou o modo de fazer negócios e como as pessoas se relacionam. Mas os eventos presenciais ou mídias presenciais continuam firmes e fortes no Brasil e por todo planeta ao contrário do que se dizia. E o marketing digital assim como as redes sociais passaram a ser fortes aliados dos eventos presenciais.
Alguns ajustes e adequações foram necessários, muito mais em função de um público muito mais exigente, conectado e focado na possibilidade real de fazer negócios durante os eventos, do que simplesmente na necessidade de valorização das marcas.
O fato é que o mercado de eventos no Brasil continua a crescer. Com crise ou sem crise, com turbulências políticas ou não, com epidemias ou não.
Para se ter uma ideia da relevância econômica do mercado de eventos corporativos no pais, até 2019 cerca de 14% da alocação da verba de marketing para negócios B2B era direcionada para feiras, conferências e eventos em geral. O marketing digital, aparece em segundo lugar, com 10%.
De acordo com a ABEOC – Associação Brasileira das Empresas de Eventos, no Brasil, o setor de eventos vem crescendo mais de 6% ao ano desde 2013 e representa mais de 4% do PIB. Atualmente são realizados por aqui cerca de 500 mil eventos anuais.
Mais eventos?
Números dessa envergadura demonstram que as empresas não diminuíram seus eventos, ao contrário, ainda acreditam fortemente nos eventos presenciais como estratégia e que eles ainda levam a maior fatia do orçamento do marketing das organizações.
As feiras de negócios permanecem sendo um ponto de encontro indispensável para quem vende e para quem compra. São pessoas reais que interagem na hora, cara a cara, vendendo e comprando. E isso continua a ter muito valor nos dias de hoje.
Raio X do Setor
Durante a última edição do “EVENTOS BRASIL”, organizado pela Abeoc em dezembro de 2019, no Ceará, a entidade apresentou sua mais recente edição do estudo ““ Raio X do setor de eventos” que deu um panorama bastante realista do cenário brasileiro.
Foram obtidas informações de 155 empresas da área de todo o Brasil – entre os dias 21 de agosto a 20 de novembro de 2019 – através de um questionário estruturado em meio digital.
Os dados mostraram que 73% das empresas de eventos esperam crescimento de faturamento em 2020. Em média, as empresas ainda esperam um aumento de 6,15% em suas receitas e 29% das empresas projetam crescer mais de 10%.
Como já vimos, a área de eventos no Brasil tem crescido em torno de 6,5% ao ano mesmo com o agravamento da crise econômica que o Brasil enfrenta desde 2013. Isso mostra a força do setor em criar novos mercados e nichos para atender as demandas específicas que fazem o mercado expandir.
Outro ponto de destaque da pesquisa são os grandes esforços de inovação. Verifica-se que algumas tecnologias estão sendo incorporadas gradativamente. E que outras, como as redes sociais já são utilizadas em larga escala, ou seja, por 75% das empresas do setor.
Estratégias e mão de obra
As empresas revelaram algumas estratégias adotadas para ganhar competitividade. Entre elas inovação apareceu com 56%; parcerias com 55%; e investimentos em tecnologias com 54%. Outro ponto da pesquisa revela que 44% ainda pretendem aumentar o número de pessoas contratadas em 2020. Considerando todas as empresas, a média de aumento de contratações é de 4,4%.
Mas existe um ponto que ainda deixa o setor inquieto: a busca por métodos de mensuração eficientes. As empresas gastam muito dinheiro em eventos corporativos, mas ainda não conseguem ter a mesma eficiência do marketing digital para medir os resultados. E essa é uma busca constante tanto para quem investe no setor e realiza cada vez mais eventos, quanto para os organizadores e prestadores de serviço na área.
O alerta Covid 19
O ano de 2020 começou com várias surpresas. A maior delas, sem dúvida tem sido o Coronavírus. E não há como negar que isso impacta diretamente o mercado no Brasil e no mundo, especialmente os eventos de maior envergadura.
A questão preocupa os organizadores de todas as áreas – dos negócios ao turismo, do esporte ao entretenimento, dos eventos religiosos aos científicos.
Altera também a rotina das empresas no mundo. O que se vê são diversos comunicados internos emitidos e medidas impostas aos funcionários em que o tom varia desde decisões de viagem tomadas caso a caso, até possibilidades de quarentena.
Assim, embora a Organização Mundial da Saúde não tenha recomendado restrições no comércio e nas viagens por causa do coronavírus, há o receio de muitos cancelamentos em todas as frentes por decisão das empresas.
Com isso, o setor de eventos tem agora sobre si uma grande responsabilidade.
A Intermodal 2020, South América, por exemplo, uma das mais aguardadas feiras de transporte de cargas e comércio exterior de toda América do Sul decidiu manter seu calendário e será realizada em São Paulo de 17 a 19 de março conforme estabelecido previamente.
Segundo a organização é uma questão de respeito aos expositores já confirmados e aos participantes inscritos. Porém a organizadora diz estar monitorando e seguindo à risca todas as orientações do ministério da saúde e pretende redobrar os cuidados.
Os grandes eventos esportivos, tanto no Brasil como no exterior também estão em cheque. Os principais deles são a Paraolimpíadas e a Olimpíada de Tóquio, marcadas para acontecer entre 24 de julho e 6 de setembro. Mas até o momento não se fala em cancelamento ou adiamento.
Na América do Sul os reflexos do Covid 19 criam várias situações ambíguas. Após a ressaca de um carnaval que reuniu multidões por todo o país e quase não se falou no assunto temos fatos como o encontro do conselho da Fifa, programado para acontecer em Assunção, no Paraguai que será realizado exclusivamente por videoconferência. Ao mesmo tempo, acontecem os campeonatos regionais de futebol, a Libertadores da América. A Copa América deste ano está garantida para o mês de junho na Argentina e Colômbia. Isso pra se falar apenas em futebol.
Encontrar saídas e novos formatos com o uso das tecnologias digitais, para evitar deslocamentos e aglomerações é apenas uma face da moeda.
Não se sabe ainda os detalhes sobre o impacto que tudo isso está causando para a economia mundial e mais especificamente para o setor de eventos no Brasil. Mas é preciso estar alerta.
O que se espera é que munidas de bom senso e discernimento, as pessoas e as empresas saibam conduzir e acatar as medidas necessárias, os adiamentos quando forem inevitáveis e até cancelamentos como forma de precaução. Lembrando sempre que esta é uma situação temporária.
Muito em breve, os números vão dar a dimensão exata dos acontecimentos. Até lá é tomar todos os cuidados. E buscar serenidade para encontrar as respostas e as lições que devemos tirar de toda essa “tempestade biológica” que abala o planeta.