O universo dos eventos corporativos está em constante mutação. Essa mudança acontece não só na tecnologia, mas principalmente no público. Cada vez mais exigente e com novos valores, o público desafia constantemente a criação de novos modelos de eventos com experiências que façam a diferença em suas vidas.
Hoje, independente do perfil, o público deseja vivenciar numa mesma jornada, navegação e tecnologia à experiências repletas de contato humano. E esse tem sido o grande desafio de quem trabalha na área de eventos no Brasil e no mundo.
Para atender e conquistar esse público, organizadores optam cada vez mais por agregar experiências solidárias, ações sociais, culturais e de inclusão aos eventos corporativos, de forma que extrapolem as salas de palestras e centros de exposições para envolver e impactar positivamente a comunidade.
Além disso, existe no mercado uma forte preocupação em tornar os eventos cada vez mais sustentáveis, por meio de programas de reciclagem e reaproveitamento de materiais, controle eficaz de consumo de energia, combate ao desperdício e várias outras ações. Com isso ganham todos: público, organizadores, palestrantes, expositores e a sociedade.
“No trabalho que realizamos na Revent e no contato com nossos parceiros, percebemos a preocupação em criar eventos além do contexto da linha de produção das empresas, dos negócios ou das discussões acadêmicas e científicas,” diz Ricardo Teixeira, co-fundador da Revent.
“Hoje, diz ele, trabalhamos no mundo corporativo com a noção de que fazemos parte do dia a dia de um bairro, cidade, região e do planeta e que precisamos de fato dar nossa contribuição para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a convivência em sociedade. Por isso, as ações sociais e as práticas de sustentabilidade nos eventos são tão valorizadas”, conclui.
Relação ganha-ganha
Além de engajar e motivar o público e a comunidade, as ações sociais trazem benefícios em diversos setores: agregam valor às marcas, aumentam a credibilidade, criam imagem e reputação altamente positivas para quem realiza e para quem organiza, entre outras.
A internet e mídia estão repletas de exemplos com essa proposta. E de todo tipo: desde atividades esportivas e gincanas com a simples arrecadação de roupas e alimentos até ações para neutralizar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) gerados nos eventos.
A conduta não é exatamente nova. Acontece no Brasil desde o final da década de 90 e aos poucos foi ganhando força. O melhor é que, além das empresas, as entidades públicas, privadas e organizações técnicas e científicas também compraram a ideia.
Pelo bem das águas
A ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas é um desses casos. Constrói seus congressos científicos, simpósios, feiras e workshops sempre com uma vertente educacional e social com resultados surpreendentes.
Para fazer chegar ao grande público o debate e a defesa das águas subterrâneas brasileiras, a entidade utilizou como estratégia em um dos seus congressos brasileiros, realizado em Campinas, SP, em 2016, uma exposição gratuita e aberta ao público chamada “De onde vem a água que você bebe.” A exposição teve um grande impacto por tratar do assunto com estações interativas, painéis fotográficos, holográficos entre outros recursos pedagógicos. Além disso, a ABAS levou para as dependências do Congresso estudantes do ensino básico e ensino médio para ver, além da exposição, apresentações de teatro e participar de oficinas de arte que utilizaram o Aquífero Guarani como ponto de partida.
“Criamos um evento diferente e sustentável do começo ao fim. Entendemos que essas atividades direcionadas ao público reforçam a real vocação da ABAS como instituição, que é conscientizar a sociedade em torno das urgências que envolvem os recursos hídricos subterrâneos no país,” ressaltou, na época, o então presidente da ABAS, Cláudio Oliveira. Daí para frente, a ABAS vem adotando esse tipo de estratégia em todos os eventos que realiza.
Antes ainda, outra entidade também ligada a Recursos Hídricos já adotava postura semelhante: a ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos. Seus simpósios bianuais reúnem milhares de pessoas entre profissionais, estudantes e pesquisadores do Brasil e do exterior. Em 2013, no grande simpósio realizado na cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, a entidade realizou com a população local a “Corrida Pelas Águas” e atividades como palestras de interesse público e para alunos e professores da rede pública sobre educação ambiental, sustentabilidade, mudanças climáticas, quantidade e qualidade da água.
Desde essa época, a ABRH segue os padrões adotados por grandes eventos internacionais e neutraliza as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) nos seus Simpósios. As ações ocorrem a partir de ações compensatórias, por meio de plantio de árvores, compra de crédito de carbonos e apoio a projetos que reduzem emissões. O inventário de emissões de GEE é realizado através de diretrizes fornecidas pelo IPCC (Intergovernamental Painel on Climate Change) e por orientações do Programa Brasileiro GHG Protocolo Brasil.
Esses e outros exemplos reforçam um conceito mais do que atual que diz que a experiência é uma das melhores formas de engajamento.
E não importa de que área ou porte seja o evento, com criatividade, seriedade e bom senso sempre é possível implementar ações de responsabilidade social, engajamento, sustentabilidade ou inclusão, mesmo que isso signifique enfrentar os mais variados desafios.
Os fatos mostram que um olhar social nos eventos corporativos tem uma forte ação multiplicadora e é capaz de agregar um valor inestimável a todos que estão direta ou indiretamente envolvidos com o projeto.
Em suma, dar um “viés” social aos eventos corporativos, por mais técnico ou comercial que ele possa ser, é uma maneira de reforçar entre participantes, organizadores, colaboradores e o público como cada ser humano pode causar um impacto positivo no mundo.